Vencedor: Alemanha / III Reich
A 13 de Maio de 1940, apenas três dias após a invasão da Bélgica e da Holanda, as forças alemãs que tinham aproveitado para atravessar a região de florestas das Ardenas, atravessam o rio Meuse.
A chegada dos alemães a este rio, mas principalmente o tipo de forças que o atravessam, explicam em grande medida a vantagem tática das forças alemãs durante a invasão da França e o seu resultado final, a derrota francesa.
No dia 11 de Maio à noite, uma sexta-feira, os blindados do XIX corpo Panzer do general Guderian[1], que tinham atravessado as Ardenas durante o dia 10, chegam à pequena cidade de Bouillon, ainda em território da Bélgica, a 3km da fronteira francesa.
A força de Guderian aguarda pelo inicio da manhã, para poder tomar a cidade e entrar em território francês no dia seguinte.
Esta força alemã, será de importância critica no avanço sobre a região de Sedan, principalmente porque os blindados alemães vão atacar a área defendida pelo setor sul do 9º exército francês e o setor norte do 2º exército francês.
Na noite de 11 para 12 de Maio, a defender o setor de Sedan, está a 55ª divisão de infantaria francesa. O comandante da divisão, avisou o comando do 2º exército que a 55ª, que tinha estatuto de unidade de reserva, teria muita dificuldade em manter as posições que detinha, mesmo sabendo-se que se defendia com o apoio do rio Meuse, para trás do qual as forças francesas tinham retirado.
Num relatório enviado ao comando superior do X corpo de exército [2] o comandante da divisão que defendia Sedan, afirma categoricamente que a unidade é fraca, que os oficiais do QG da divisão são indisciplinados e que os comandos não têm experiência. O material é de proveniências diversas e a divisão conta com apenas 20 peças anti-carro de 25mm (a dotação deveria ser de 52) para defender uma frente de 15km, onde se espera um ataque de tanques.
Importante é também a informação sobre as defesas estáticas, que não estão completas e em muitos casos são armadilhas para os militares franceses.
No domingo dia 12 de Maio, Guderian reune-se com o comandante do I exército Panzer, Von Kleist e afirma que o seu corpo de exército precisa de tempo para preparar a travessia do Meuse. Nessa mesma tarde, Guderian recebe ordens diretas para atacar no dia seguinte às 16:00, recebendo garantias de apoio por parte da Luftwaffe [3].
Assim, na manhã de seguda-feira 13 de Maio não serão os tanques o principal problema dos militares da 55ª divisão de infantaria francesa.
Embora os relatórios sejam dispares, a maioria aponta para que entre as 09:00 e as 10:00 tenha tido inicio um bombardeamento generalizado da área de Sedan, que terminou por volta das 15:00.
Os bombardeiros alemães atacam especialmente as posições da artilharia francesa , tornando o tiro pouco preciso e facilitando o avanço das forças alemãs.
Os Stuka encarniçam-se contra as casamatas e abrigos não acabados e o número de vítimas é por isso muito maior entre os militares que se refugiaram nas casamatas que entre os que optaram por se proteger longe delas.
Finalmente, às 16:00 as forças de engenharia alemãs começam a lançar pontes sobre o rio para o atravessar. A artilharia francesa (peças da 55ª divisão), completamente desorganizada pelos ataques aéreos ainda assim consegue disparar sobre os alemães.
Além disso, embora os abrigos de betão tenham sido fortemente atacados, muitos soldados franceses ainda resistem e forçam as primeiras vagas alemãs a voltar para trás.
A 1ª divisão Panzer consegue atravessar o rio Meuse entre as 17:00 e as 18:00 próximo à zona urbana da cidade de Sedan, mas a 2ª divisão, é rechaçada várias vezes durante a tarde a cerca de 4km para ocidente, na área de Donchery.
A 10ª divisão Panzer também sofre pesadas baixas até conseguir atravessar o rio. Consegue estabelecer uma testa-de-ponte precária. Um ataque a sul de Bazeille é igualmente detido pelos franceses.
O 2º exército tem ao dispor algumas unidades mecanizada, mas estas estão equipadas com
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O carro de combate FCM-36: Blindagem melhor que a dos tanques alemães, mas armamento inferior |
tanques leves FCM-36 equipados com uma torre tripulada por um só homem e armada com uma peça de 37mm de cano curto, muito pouco eficaz contra blindagem.
É no entanto importante referir que a maioria dos tanques alemães também não conseguia perfurar a blindagem dos FCM-36. Só o Panzer Mark III conseguia fazê-lo.
A maior parte das perdas resulta das peças anti-tanque de 37mm da infantaria alemã, mas também da cobertura aérea dada pelos bombardeiros táticos Stuka.
Guderian apercebe-se dos problemas e dá ordem à 1ª divisão Panzer (a única que conseguiu ganhar terreno do outro lado do rio) para continuar o ataque durante a noite de 13 para 14 de Maio, para assim facilitar a progressão das outras duas divisões que se encontram bloqueadas pelos franceses.
Essa ordem significará a diferença entre a ruptura ou o fracasso. Ao manter a pressão sobre os franceses, os alemães aumentam dramaticamente a desorganização e coesão das forças francesas, que sem contacto umas com as outras, entram em pânico e rendem-se ou fogem.
Incrível nesta operação, é que o general Gamelin, comandante em chefe das forças aliadas, no dia 15 ao meio dia ainda não acredita nas informações que recebe, que dão conta da queda de Sedan, o que implica que há agora uma brecha entre o setor norte do 2º exército e o setor sul do 9º exército. O general Georges, subordinado de Gamelin também não está melhor informado.
Quando finalmente os franceses percebem o que se passou em Sedan já é tarde.São emitidas ordens, mas as ordens são ultrapassadas pela situação no terreno e quando chegam, já as posições onde os franceses deveriam resistir, foram tomadas pelos alemães.
A somar a isto, os generais franceses, nomeadamente o general Georges, que comanda diretamente todos os exércitos entre a fronteira da Suiça e o canal, não entende as consequências táticas da ruptura em Sedan e acredita que os franceses se vão atirar sobre Paris.
Resultado disso, dá ordens ao 2º exército, cujo flanco esquerdo tinha sido obliterado pelos tanques alemães para que assuma posições mais recuadas ao longo da margem sul do rio Marne, abrindo assim ainda mais a brecha entre o 9º e o 2º exército.
Resultado disto, o 9º exército francês vai ser ultrapassado pelos tanques alemães, ficando muitas das suas unidades cercadas ou isoladas dos seus comandos.
À medida que as más notícias se vão acumulando, os franceses decidem dar uma das ordens mais desesperadas, que consistiu na transferência do 7º exército do gen.Giraud que se encontrava no norte da Bélgica, para sul, a fim de reforçar o 9º exército do gen. Corap, tapando a brecha aberta pelos tanques alemães.
Essa transferência não teve sucesso, já que partes do 7º exército acabaram por ficar retidas no norte e as unidades que se uniram ao 9º exército acabaram por ficar cercadas pelos avanços alemães.
Tanto o 9º como o 1º exército são forçados a recuar perante a total confusão de ordens e a desorganização dos primeiros dez dias do ataque alemão.
A França não recuperará do desastre de Sedan.
Mais a norte, outro corpo blindado, do qual fazia parte a 7ª divisão Panzer, comandada pelo general Erwin Romel força também os exércitos franceses a recuar tornando dificil ao 9º exército apoias o 2º. Os avanços de Romel são tão significativos quando os de Guderian em Sedan, mas estes últimos, pelo facto de terem tomado o flanco sul do principal grupo de exércitos aliados e terem explorado com sucesso as vitórias obtidas, passaram à história como a razão principal da queda da França.
[1] – O XIX corpo panzer fazia parte do exército blindado de Von Kleist, que contava com dois corpos panzer. O XIX era comandado por Guderian e contavam com a 1ª, 2ª e 10ª divisões blindadas. O equipamento das três divisões de Guderian era o seguinte:
141 - tanques leves Panzer I armados com metralhadoras
326 - tanques leves Panzer II armados com peça de 20mm
174 - tanques médios Panzer III armados com peça de 37mm
104 - tanques de apoio Panzer IV armados com peça de 75mm de cano curto
42 - blindados de comando.
[2] – O X corpo de exército fazia parte do 2º exército francês e era composto por duas divisões. A 55ª de infantaria e a 3ª divisão de infantaria norte-africana, cada uma com 3 regimentos de infantaria.
[3] – Este exemplo, é um dos que é normalmente dado para explicar que Guderian, embora seja o mentor da guerra relâmpago, era na realidade mais conservador que o que se pretende afirmar.
É o seu comandante, Von Kleist, que insiste para que não perca tempo e ataque os franceses.
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