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Um ataque venezuelano ao Brasil
Não é previsível a possibilidade de um conflito entre os dois países, embora a já tradicional imprevisibilidade do regime de Hugo Chavez, deixe os estrategas confusos. A eventualidade de chegada ao poder de um presidente menos colaborante com as teses de Chavez, poderão dar aquele, razões para se voltar contra o Brasil, se achar que precisa de inimigos externos para conter o descontentamento popular com suas políticas.
Não sendo previsível um ataque directo, existe sempre a possibilidade de ele ser simulado, pelo que o conflito ou a análise do conflito terão sempre que considerar um numero elevado de fatores impossíveis de prever.
Num cenário de ataque, a área de conflito mais provável seria a região do Roraima, e o controle de Boa Vista o objectivo estratégico mais simples para a Venezuela afirmar a sua capacidade de afirmação militar.
A zona entre a fronteira e o rio Negro, e mesmo até às proximidades de Manaus seriam o palco de um conflito num terreno com condições muito difíceis onde a selva amazónica seria o factor preponderante em qualquer operação militares.
Para além desta zona seria muito difícil para o exército de Venezuela progredir. Ele teria que controlar, ou anular Manaus como centro de comunicações e centro logístico, e isso seria militarmente muito improvável.
À primeira vista, a Venezuela teria neste conflito um trunfo fundamental: supremacia aérea. Os seus 24 SU-30 MK2 teriam a capacidade de dominar o espaço aéreo na fronteira protegendo suas unidades terrestres e ao mesmo tempo facilitando os ataques aéreos contra unidades terrestres brasileiras. A via de invasão teria de passar inevitavelmente pela BR 174, a qual seria vital para manter o abastecimento logístico das forças venezuelanas, e seria um caminho direto para Boa Vista e Manaus. Se grande parte da extensão do troço norte da BR210 caísse sob o seu controlo seria possível dar maior profundidade ao ataque ao permitir manter forças num perímetro muito mais alargado.
O uso de forças helitransportadas também seria extenso, com uma considerável frota de helicópteros de transporte (Mi-17V5, Bell 205, 412 e 416) e o domínio dos ares, a inserção de pequenas unidades de infantaria ligeira em vários pontos estratégicos seria generalizada. Isto tornaria possível uma missão de desembarque num ponto a sul de Boa Vista, visando o seu cerco por terra (a intersecção entre a BR174 e a BR210 na cidade de Novo Paraíso seria um ponto especialmente importante para travar os reforços brasileiros).
Os helicópteros seriam também usados extensamente em missões de abastecimento urgente e evacuação de feridos, sendo que o Mi-26T2 poderia transportar equipamento mais pesado (artilharia ligeira, veículos, …) e desembarcá-lo por trás de eventuais posições defensivas brasileiras ao longo daquele eixo rodoviário.
Helicópteros de ataque Mi-35 (e em breve Mi-28) seriam usados em missões de apoio terrestre e seriam particularmente úteis no ataque a pontos de resistência, embora a capacidade venezuelana para operar essas aeronaves longe das suas bases pudesse tornar a sua utilização pouco eficiente.
Em combates em terra, o papel principal caberia a unidades de infantaria ligeira, dividida em múltiplas pequenas sub-unidades ao nível de pelotão e companhia. Os combates na selva seriam provavelmente feitos de emboscadas e patrulhas constantes, tendo como principal objectivo a garantia do controlo das estradas.
Confrontos mais convencionais ficariam reservados para a região de Boa Vista. Aí, o exército brasileiro oporia-se aos invasores com a 1ª Brigada de Infantaria da Selva, com o 1º e o 7º Batalhão de Infantaria de Selva. O apoio a estas unidades de infantaria, no confronto pelo controlo de pontos urbanos, seria dado pelo 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado e pelo 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva.
Entretanto, seria de Manaus que viriam os primeiros reforços. A 3ª companhia de forças especiais, aos quais se juntariam diversas unidades do Comando Militar da Amazónia (CMA). No entanto, é de realçar as grandes distâncias a percorrer e o fato de que o apoio enviado por via terrestre poder demorar demasiado tempo a chegar ao teatro de operações.
Na 12ª região militar encontram-se as Brigadas de Infantaria da Selva nº2, 16, 17 e 23, assim como o 2º Agrupamento de Engenharia, e destas unidades seriam enviados reforços para estabilizar as posições controladas e onde a ofensiva tivesse sido retida.
Num conflito deste tipo, as dificuldades seriam acima de tudo de ordem logística. As dificuldades de um teatro de guerra como a Amazónia tornam a logística no calcanhar de Aquiles de qualquer força militar, particularmente quando se encontra em operações que implicam um enorme gasto de munições e combustível. O sucesso dos combates, dependeria em grande escala da capacidade de abastecimento das forças neste palco de combates e, se apesar de o abastecimento por via terrestre ser preponderante, o abastecimento através de meios aéreos seria vital em momentos críticos da batalha, é o meio mais rápido de abastecer unidades com ruptura do stock de munições ou cercadas pelo inimigo, de recolher feridos, de enviar reforços para os pontos “quentes”…
A utilização da Força Aérea
Outro problema residiria nas dificuldades de operar num ambiente altamente perigoso para a força aérea brasileira. A primeira dessas dificuldades seria a transferência dos Mirage 2000 para o palco de operações. A partir da sua base nos arredores de Brasília os Mirage 2000 não teriam alcance suficiente para operar com eficiência junto à fronteira, além disso, os Mirage 2000B/C e os F-5EM/FM (mesmo depois de modernizados) teriam poucas hipóteses no caso de entrarem em luta com um SU-30 MK2, pelo que o apoio aéreo brasileiro teria de ser feito com extremo cuidado, usando os R-99 para detectar a presença aérea venezuelana, tornando possível coordenar ataques evitando os caças russos.
Já os Super Tucano, os A-1 «AMX» e em breve os novos Mi-35 poderiam atacar as forças terrestres venezuelanas e atrasar o seu avanço até a chegada de reforços. No entanto, seria de contar com a presença de mísseis IGLA-S e ainda de sistemas TOR M1 (o uso destes últimos seria sem dúvida mais difícil devido às dificuldades em deslocá-los para o palco de operações) o que iria por certo provocar baixas à aviação brasileira.
Seriam também usados meios de transporte aéreo para deslocar reforços e abastecimentos. A partir de Manaus helicópteros UH-1H e UH-60L da FAB e AS-532 Cougar, AS-565 Pantera e UH-60 Blackhawk do 4º Batalhão do exército, transportariam abastecimentos e destacamentos de forças especiais, ao mesmo tempo, através da BR174 seguiriam forças mecanizadas, a infantaria usaria veículos de transporte blindado como o Urutu, apoiados pelos Cascavel para uma rápida progressão, no entanto, a falta de meios de defesa aérea do exército tornaria perigosa a aproximação ao teatro de operações, onde estariam sujeitos aos ataques aéreos dos F-16, F-5, SU-30 MK2 e helicópteros de ataque Venezuelanos, pelo que a aproximação final poderia ser feita usando as suas capacidades anfíbias através da selva amazónica. O uso de mísseis anti-tanque por ambos os lados e o difícil terreno, tornavam improvável o uso em larga escala de carros de combate, a artilharia e os morteiros seriam importantes no assalto a alvos fixos, mas menos flexíveis para as emboscadas e os combates na selva.
Dificuldades de parte a parte
Do lado venezuelano, também haveria imensas dificuldades de difícil resolução. A começar pelo facto de um ataque deste nível dificilmente poder ser planeado com discrição, ao deslocar as enormes forças necessárias para a fronteira, essa movimentação seria seguramente detectada pela Inteligência Brasileira. Além disso, a via de progressão por território brasileiro seria muito estreita e a logística insuficiente para unidades de grande escalão. A presença aérea sobre o palco de operações também seria insuficiente, podendo a FAB actuar com relativa impunidade durante a maior parte do tempo, as forças terrestres venezuelanas também ainda não possuem muitos dos equipamentos que seriam vitais para uma missão deste nível, a começar por um parque moderno de veículos com capacidade anfíbia.
Assim, apesar de todas as contrariedades, uma invasão dentro destes parâmetros seria repelida pelas forças armadas brasileiras, o soldado brasileiro está mais adaptado à luta na selva e o uso das forças especiais brasileiras tornaria o abastecimento das forças de invasão muito difíceis através de emboscadas constantes às suas vias de comunicação. A força aérea brasileira, mesmo numa situação de perda de supremacia aérea, iria atacar constantemente as forças inimigas com uma frota que inclui alguns dos melhores aviões de apoio em território amazónico, os danos causados seriam imensos e a chegada de reforços de Manaus acabariam por estancar a progressão inimiga. Com as unidades do CMA seria possível contra-atacar e expulsar de território brasileiro as forças inimigas, e também não levaria muito tempo até chegarem mais reforços de outros locais do Brasil através de uma ponte aérea.
Neste último ponto, um ataque deste tipo está dentro da pura especulação e neste momento não existe nenhum indício nas relações entre Brasil e Venezuela que levem a crer num conflito entre os dois países. No entanto, imagine-se uma mudança de governo no Brasil que seja antagónica à esquerda revolucionária de Chavez? Não seria difícil imaginar o ditador venezuelano entrar em tensões com o Brasil, e se um conflito destes seria um desaire para a Venezuela, para o Brasil também teria duras consequências, é pois urgente apostar numa modernização militar que torne uma aventura destas em suicídio militar. Assim se compreende a urgência do programa FX, entre outros, para transformar as forças armadas brasileiras numa força capaz de dissuadir qualquer agressor, hipotético…ou real.
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